Postado por Beethoven em 30/out/2020 - Sem Comentários
O aluno Davi Braga, do curso de Cinema da UFF, foi premiado com o curso on-line “Introdução à linguagem cinematográfica”, do portal Cinemascope, ministrado pelo crítico de cinema Donny Correia. Davi elaborou uma crítica por escrito do toymovie “Odisseia”, parte do projeto “Quarentena filmes” do ator cearense Walmick de Holanda, que teve início durante o isolamento social enquanto forma de criação e expressão artística. Veja os filmes no canal https://www.youtube.com/c/walmickdeholanda/O Cineclube Matrizes Clássicas UFF é um equipamento cultural virtual do Laboratório de Estudos Clássicos (LEC-UFF).A íntegra da crítica premiada:
ODISSEIA – TOYMOVIE
O que mais chama a atenção na animação que encena de maneira lúdica o épico poema de Homero “Odisseia” é a naturalidade com que os elementos artificiais são trabalhados. Sem buscar em momento algum estabelecer algum tipo de transparência na representação, Walmick de Holanda mistura todos os tipos de elementos caseiros, como bonecos da cultura pop, as paredes de sua casa, ketchup e outros para dar vida às partes do épico.
Com uma abordagem centrada em momentos específicos do poema, conferindo à animação um caráter episódico, aflora no plano uma criatividade muito livre, leve, e que faz jus aos mais diversos tipos de manipulação dos elementos de sua mise-en-scène. A mão de luva de borracha, não menos precisa que a de um cirurgião que a utilize, intervém a todo momento na movimentação e colocação dos objetos, brinquedos ou o que seja, denunciando sua própria realização. Que alguém pense que tal “denúncia” seja negativa, na verdade se trata do contrário. A atestação dessa interferência quase divina no plano da encenação é natural e interessante dentro do contexto pandêmico de produção. É ele que permite a manifestação de toda essa liberdade lúdica e criativa, uma reinvenção do fazer cinematográfico que é possível somente por esta situação de isolamento, resultando em um total aproveitamento dos elementos à disposição.
Que tenha escolhido um clássico da literatura para esta adaptação é sintoma de uma inquietude criativa que permeia o diretor. “Odisseia” já foi recriado de mil e uma maneiras, todas talvez buscando um certo realismo, um efeito dramático acentuado etc., mas a picotagem da narrativa e sua representação despretensiosa e criativa da maneira que foi aqui é bela, devidamente inserida no contexto contemporâneo e traz uma renovação muitíssimo interessante. Do ketchup às velas, dos action figures ao barco de papel e chegando até a bem-vinda intervenção de um gatinho na cena, configura-se uma narrativa não menos épica e tão bem feita quanto qualquer outra adaptação que esteja pelo mundo.
Davi Braga é membro discente do curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF).